sábado, 4 de julho de 2015

Em crise, jornais impressos ainda têm recursos 'sugados' para manter suas versões digitais

Por Karine Seimoha

Foto: Isabel Silva
A crise levou os jornais impressos ao seu volume morto. Assim, as publicações em papel estão tendo que "emprestar" receita e esforços para tentar alavancar suas versões digitais. A análise foi feita pelo jornalista Leão Serva, colunista da Folha de S.Paulo. Ele traçou um panorama sobre a qualidade dos jornais impressos e dos jornais digitais, em aspectos como a qualidade das notícias, a formação dos jornalistas incumbidos de cada matéria e a composição da receita do veículo. Também abordou a nova forma de comportamento de algumas grandes publicações feitas em redes sociais.

 A crise levou os jornais impressos ao seu volume morto. Assim, as publicações em papel estão tendo que "emprestar" receita e esforços para tentar alavancar suas versões digitais. A análise foi feita pelo jornalista Leão Serva, colunista da Folha de S.Paulo. Ele traçou um panorama sobre a qualidade dos jornais impressos e dos jornais digitais, em aspectos como a qualidade das notícias, a formação dos jornalistas incumbidos de cada matéria e a composição da receita do veículo. Também abordou a nova forma de comportamento de algumas grandes publicações feitas em redes sociais.

No 10º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, realizado em São Paulo, pela Abraji, Serva disse que "todos os jornais estão perdendo audiência. Porém, nunca se leu tanta notícia". Uma das possíveis explicações para isso é o fato de muitos jornais terem submetido suas redações digitais às redações do jornal impresso. E, segundo ele, essa atitude é como querer promover a Queda da Bastilha sob comando militar.

Explicou que, neste momento, vários jornais do mundo estão fazendo sucesso e não integraram as suas redações, por exemplo, The Guardian. Há contato, há troca de informações, há circulação de reportagens, mas não há subordinação.

Na atualidade, muitos veículos têm optado por postar notícias em redes sociais que, mesmo não sendo as notícias mais importantes do dia, geram mais compartilhamento, e assim, atraem mais cliques, mais compartilhamentos, que atraem mais interesse do público. Juntamente com isso, vem a baixa qualidade dos comentários de leitores, com agressões e mensagens de ódio e intolerância. Para Serva, é importante esclarecer que "esses comentários não são de natureza jornalística, não são feitas por jornalistas, não estão, portanto, ligadas à qualidade da informação. Os comentários de redes sociais são de natureza 'de rua', cultura de rua".

Marcelo Beraba, diretor da Abraji, citou a experiência feita pelo jornal americano Texas Tribune, que determinou os setores que pretende cobrir. A iniciativa começou com cerca de dez jornalistas e já conta com mais de 30 profissionais.

"A integração das redações custou um investimentos que elas não estavam preparadas para fazer. Os jornais em papel, já secos, estão fazendo uma transfusão de sangue, tendo de ajudar seus jornais de internet", avaliou Serva. Disse ainda que parte da crise do jornalismo impresso se deva ao fato de este ter se relacionado intimamente demais com a publicidade, e "ninguém acredita mais em publicidade, que é a base dos meios de sustentação dos jornais impressos".

Ponderou que a solução é não atrelar as redações de impresso e digital, pois com os novos meios digitais, a publicidade percebeu que não precisa da intermediação de veículos de informação. Na internet, o usuário tem acesso à marca por outras formas, como páginas em redes sociais. Mas sim, o jornal deve ter sua sustentação baseada em circulação. "O jornal do futuro é o jornal do passado, ou seja, um jornal que se sustente em circulação, dependente apenas de seu público. Pequenos jornais, pequenas redações", pois foi a publicidade quem criou o modelo dos atuais jornais, dos meios de comunicação de massa.

Para ele, o que determina a qualidade da notícia é a formação do jornalista. Muitas vezes, o jornalismo digital peca por que os jornalistas designados para os jornais digitais têm menos tempo de formação que os jornalistas dos jornais de papel.

A boa notícia que isso traz, segundo Serva, é que no mundo em que estamos vendo, onde muita gente vê a morte do jornalismo, é que acaba com a proletarização do jornalista. Acaba com a linha de montagem de jornais (como uma linha de montagem de veículos ou uma fábrica de sabonetes), onde cada jornalista é alienado ao todo do produto final. "Se não termina, pelo menos, reduz a proletarização. Essa é a boa notícia. A má notícia é que isso reduz o emprego também."

Finalizou dizendo que "o jornalista não pode ser generalista. Deve ter um aprofundamento teórico sobre as áreas em que for cobrir. Os cursos de jornalismo que temos no Brasil dão apenas uma base generalista. Parte deveria ser dado para todo o curso, e parte deveria ser dado de acordo com a demanda de cada aluno, de acordo com a área que ele quer atuar". Ele disse ainda que, em tempos de jornalistas generalistas, um dos maiores desafios é preservar a ética no processo de construção das notícias, e para isso, é preciso formar profissionais liberais, empreendedores, não mais apenas máquinas para manter as fábricas de notícias.

O 10º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi com o patrocínio do Google, O Globo, Estadão, Folha de S. Paulo, Gol, Itaú, Oi, TAM, Twitter e UOL, e apoio da ABERT (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), ANJ (Associação Nacional de Jornais), Comunique-se, Conspiração, Consulado Geral dos Estados Unidos no Brasil, FAAP, Fórum de Direitos de Acesso à Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center for Journalism in the Americas, OBORÉ Projetos Especiais, Textual e UNESCO. Desde sua 5ª edição, a cobertura oficial é realizada por estudantes do Repórter do Futuro, sob a tutela de coordenadores do Projeto e diretores da Abraji.

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